CONTEXTO
Um dos temas sobre o qual iniciámos uma pesquisa no contexto do nosso Laboratório do Desconhecimento é o da criação e uso de medicamentos e da interação planta-medicamento.
Não é despicienda a presença da medicamentação nas nossas vidas. É comum, de modo mais ou menos regular, procurarmos a alteração ou o equilíbrio fisiológico do nosso organismo através da ingestão de comprimidos, do uso de pomadas ou da injeção de fármacos. Todas/os nós, nesta parte do mundo em que nos encontramos, estamos familiarizada/os com as práticas de receita de medicamentos por profissionais de saúde, e temos a certeza de encontrarmos uma farmácia em qualquer vila ou cidade. Em Portugal existe uma farmácia por cada 3000 habitantes.
A ingestão de medicamentos está culturalmente enraizada, naturalmente pela importância que atribuímos à nossa saúde e também pela eficácia comprovada de muitos medicamentos no tratamento de doenças ou no alívio de sintomas.
Os medicamentos podem ser sintetizados em laboratório ou extraídos de elementos naturais. Sempre existiu uma relação próxima entre a Medicina, a Farmacologia e a Botânica, no estudo e investigação das propriedades terapêuticas de muitas plantas. O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra tem, desde a sua fundação, uma secção chamada Escolas de Sistemática, criada para o estudo da Botânica, em que se inclui a Escola Médica, um conjunto de canteiros com plantas de características medicinais e aromáticas.
No contexto do nosso Laboratório, estudámos e refletimos sobre estes processos de ligação e interação entre as substâncias químicas presentes na natureza e a composição bioquímica dos nossos corpos. Numa primeira fase da investigação, incidimos particular atenção na interação planta-medicamento — as possíveis interferências da ingestão de substâncias naturais com o uso de medicamentos. Este é um campo científico de estudo, que assume particular relevância em cenários de automedicação com produtos naturais a par de medicação receitada, como acontece com alguma frequência em doenças de foro cancerígeno. Há substâncias de consumo comum, como o sumo de laranja ou o alho, que interagem com muita medicação, podendo provocar alterações à eficácia desta última ou até complicações de saúde. Partindo de bases de dados com registos destas interações e com relatos de casos clínicos de pessoas que foram afetadas, procurámos descobrir dramaturgias que refletissem sobre a interação dos nossos corpos — aglomerados de substâncias químicas — com outros elementos químicos que nos rodeiam.
CONTRA-INDICAÇÕES (Espetáculo)
A apresentação do espetáculo “Contra-indicações“ aconteceu no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, em estreita relação espacial e temática com as Escolas Médicas. Envolvendo a consultoria da equipa científica do Jardim, esta juntou-se à equipa criativa da Marionet, num processo de reflexão e criação de um espetáculo a partir de um tema científico habitual na companhia. Esta apresentação foi integrada no RE/FORMA, um evento multidisciplinar que visou celebrar os 250 anos da Reforma Pombalina na Universidade de Coimbra.