Marionet: há 22 anos sem espaço para trabalhar
MARIONET GARANTE APOIO DA DIREÇÃO-GERAL DAS ARTES ATÉ 2026, MAS, AO FIM DE 22 ANOS, CONTINUA A NÃO TER ESPAÇO DE TRABALHO
O panorama nacional de financiamento das Artes é extremamente exigente e competitivo. A esta exigência e competição soma-se um subfinanciamento estatal crónico, o que leva a que, fatalmente, muitas estruturas artísticas relevantes não consigam financiamento e tenham de lutar com enormes constrangimentos para sobreviver, quando o conseguem.
A Marionet é uma companhia de teatro surgida em Coimbra há 22 anos, e que tem nesta cidade o centro da sua atividade de criação. Muitas coisas fazem desta companhia um caso especial, mas uma relevante será o seu trabalho único de cruzamento do teatro com as ciências. Seria fastidiosa e resultaria incompleta uma tentativa de resumir em algumas linhas os 22 anos de atividade ininterrupta. No entanto, é importante demonstrar como o trabalho que a Marionet desenvolve é único e especial, razão pela qual vem sendo apoiado financeiramente pelo Ministério da Cultura e, numa escala menor, pela Câmara Municipal de Coimbra.
Talvez uma forma de conseguir isso seja enumerar brevemente a atividade que irá desenvolver neste ano de 2023:
– Vai estrear um documentário sobre a Apneia Obstrutiva do Sono, criado em colaboração com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e o Centro de Medicina do Sono dos CHUC;
– Vai criar e apresentar no Jardim Botânico, no âmbito da iniciativa Re/Forma, um espetáculo sobre Plantas e Medicamentos e a relação e interação entre os dois;
– Vai criar e apresentar na Biblioteca Municipal de Coimbra um espetáculo sobre esta biblioteca, que completa 100 anos, e sobre o papel e relevância deste tipo de equipamento nas vidas das pessoas;
– Vai criar, em conjunto com uma turma do 1º ciclo do ensino básico da Escola Básica Solum Sul, e no contexto do Projeto CresceRio da responsabilidade do MARE – Centro do Mar e do Ambiente, um espetáculo de teatro sobre ecologia de rios, biodiversidade e sustentabilidade;
– Vai orientar a criação colaborativa e apresentação de uma peça de teatro sobre equidade de género em ambientes académicos, no contexto de um projeto da responsabilidade da Reitoria da Universidade de Coimbra;
– Vai criar e apresentar, com investigadores de neurociências espalhados por várias instituições de investigação europeias, uma peça de teatro sobre investigação em doenças neuropsiquiátricas, no contexto do projeto europeu Syn2Psy, coordenado pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra;
– Vai criar e apresentar, em parceria com o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra e o CHUC, um espetáculo sobre a previsão de crises de epilepsia com base em algoritmos de inteligência artificial;
– Vai criar e apresentar, em coprodução com o Teatro Académico Gil Vicente, um espetáculo sobre a pílula anticonceptiva e o impacto que teve (e tem) na nossa sociedade;
– Vai criar e apresentar, em parceria com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, três vídeos de curta duração sobre temas das Ciências da Saúde;
– Vai organizar em Coimbra, em parceria com o TAGV, o CEIS20, o CNC e o Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC, a segunda edição do Colóquio internacional Theatre about Science, que já é uma referência mundial no campo dos cruzamentos entre teatro e ciência.
Para além destas iniciativas, continuará ainda, durante o ano de 2023, a:
– Apresentar sessões bimestrais de leituras públicas de peças de teatro relacionadas com ciência, no âmbito do seu projeto Ler Teatro com Ciência;
– Promover a tradução colaborativa de peças de teatro de tema científico, no âmbito do seu Projeto de Tradução Colaborativa;
– Disponibilizar ao público a consulta e requisição de obras da biblioteca especializada do seu Centro de Documentação em Artes Performativas e Ciência;
– Dinamizar atividades para a infância cruzando o teatro com as ciências;
– Fomentar a apresentação das suas produções em outros locais do país e do estrangeiro.
Toda esta atividade tem de ser preparada, desenvolvida e apresentada em algum sítio. Imaginem o que é fazer isto tudo sem ter um espaço de trabalho. Pois é precisamente o que sucede à companhia de teatro Marionet.
Há 22 anos que solicita um espaço de trabalho ao Município de Coimbra com as condições necessárias e suficientes para, enquanto estrutura artística profissional sediada em Coimbra, desempenhar com condições as importantes funções criativas, formativas, de investigação e de oferta cultural com características únicas que empreende.
Consegue, do Ministério da Cultura, o apoio financeiro de que necessita, mas os sucessivos executivos da Câmara Municipal de Coimbra ainda não tiveram a vontade e o arrojo de ajudar a criar um espaço físico dedicado aos cruzamentos entre as artes performativas e as ciências, único no país.
Quando é que a Câmara Municipal de Coimbra arranja finalmente um espaço para a companhia de teatro Marionet, cujo trabalho é reconhecido nacional e internacionalmente? Vinte e dois anos de travessia do deserto não serão já suficientes?
- Clipping
- Marionet pede espaço à Câmara para trabalhar [Diário As Beiras]
- Companhia de Coimbra Marionet lamenta continuar sem espaço ao fim de 22 anos [RTP Notícias]
- Companhia de Coimbra Marionet lamenta continuar sem espaço ao fim de 22 anos [Observador]
- O que se passa com o Teatro Sousa Bastos? [Coimbra Coolectiva]