«Se as portas da percepção se vissem limpas, tudo apareceria ao homem tal como é, infinito. Pois o homem encerrou-se até ver todas as coisas pelas fendas estreitas da sua caverna»
William Blake (1757-1827), O Casamento do Céu e do Inferno [1790], Lisboa: Antígona, 2006, p. 29.
As características muito próprias do projeto “As Portas da Percepção” fazem-no atravessar vários dos vetores de atividade da Marionet. O que muito nos agrada. Da mesma forma que no conhecimento não há compartimentos estanques, como se verifica atualmente, por exemplo, no esbater das fronteiras entre áreas científicas ou na utilização cada vez mais frequente, também nas artes, dos termos interdisciplinar, multidisciplinar ou transdisciplinar, também na estruturação da nossa atividade há uma permeabilidade natural nas regiões fronteira, onde os conteúdos, as formas e os métodos se tocam. Por isso “As Portas da Percepção” enquadra-se, de forma arrojada, na região fronteira da nossa atividade onde procuramos abrir caminhos para o futuro.
A ideia para este projeto sobre textos de Blake partiu do diretor do TAGV, Manuel Portela, professor do Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tradutor de várias obras daquele autor, e em particular, no que interessa a este projeto, dos seus livros iluminados, cuja singularidade no tocante ao conteúdo poético e à multiplicidade de processos de construção os tornam frutos sugestivos e apetecíveis para a construção de um espetáculo transdisciplinar.
SINOPSE
Tal como nos poemas iluminados, texto e imagem colaboram na produção de um sentido, a seleção do Manuel Portela produziu para nós um mundo dentro da cosmogonia visionária de William Blake. Aqui estão ideias de liberdade para os corpos e para as emoções na forma de um novo Génesis. Um mundo sem escala ou tempo absolutos, em que o nascimento de um homem é também a explosão original geradora do mundo finito. Mente e corpo são um só, encerrado nos cinco sentidos finitos. Antes era o infinito e só a vontade determinava a forma. Depois de cairmos da Eternidade ficámos condenados aos limites do mundo material que podemos percecionar. Instituições seculares como Igreja, Estado e parte da comunidade científica procuram organizar esta perceção para legitimar as suas leis com medições e cálculos.
Limpar as portas da perceção permitirá contemplar esta conspiração mas também encontrar o indivíduo incapaz de obedecer. O Homem ilimitado, que suportará a complexidade sem se esconder aquém do horizonte.
+INFO
Teatro Académico de Gil Vicente | Coimbra
23 de novembro de 2007 | 15h30 e 21h30
24 de novembro de 2007 | 21h30
Folha de Sala
SOBRE WILLIAM BLAKE
No seu conjunto, a obra de William Blake constitui uma verdadeira cosmogonia, que reescreve e recombina diferentes mitos da criação. Ao escrever, desenhar, gravar, imprimir, pintar e publicar, William Blake tomou nas suas mãos todo o potencial simbólico do livro como máquina de criação e chamou a si o controlo do modo de produção tipográfico, num momento em que se acentuava a divisão do trabalho e se anunciava já a industrialização da imprensa. Além dos poemas proféticos em manuscrito Tiriel (c. 1789), The French Revolution (1791) e The Four Zoas (c. 1795-1804), a sua obra inclui os seguintes livros iluminados: All Religions are One (c. 1788), There is No Natural Religion (c. 1788), Songs of Innocence (1789), The Book of Thel (1789), The Marriage of Heaven and Hell (1790), Visions of the Daughters of Albion (1793), For Children: The Gates of Paradise (1793), America a Prophecy (1793), Europe a Prophecy (1794), Songs of Innocence and of Experience (1794), The First Book of Urizen (1794), The Book of Los (1795), The Song of Los (1795), The Book of Ahania (1795), Milton A Poem (1811) e Jerusalem: The Emanation of the Giant Albion (1820). Aos livros iluminados juntam-se ainda centenas de pinturas, desenhos e gravuras. Nos últimos dez anos, a digitalização da sua obra tem construído um espaço de leitura que permite olhar de forma renovada para a materialidade icónica do seu traço visionário, restituindo a integridade visual e literária dos originais.
MANUEL PORTELA
Ideia, Tradução e Seleção de Textos e Imagens Manuel Portela
Encenação Mário Montenegro
Assistência de Encenação e Produção Executiva Alexandre Lemos
Discussão e Ideias Alexandre Lemos, Anabela Fernandes, Laetitia Morais, Manuel Portela, Mário Montenegro, Nuno Fareleira, Pedro Andrade, Rui Capitão, Rui Simão, Tanya Ruivo
Interpretação Anabela Fernandes, Mário Montenegro, Nuno Fareleira, Tanya Ruivo
Cenografia, Figurinos e Imagem Pedro Andrade
Sonoplastia Rui Capitão
Vídeo Laetitia Morais
Desenho de Luz e Direção Técnica Rui Simão
Programador de sensores Rui Monteiro
Penteados Carlos Gago
Carpintaria Laurindo Fonseca
Fotografia de Cena Francisca Moreira
Registo Vídeo Alexandre Lemos, Francisco Queimadela
Assistência de Produção Joana Figueiredo
Coprodução Marionet | Teatro Académico de Gil Vicente
Apoio
Direção Geral as Artes/Ministério da Cultura
British Council
MAFIA – Federação Cultural de Coimbra
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Ilídio Design
Diário de Coimbra
Rádio Universidade de Coimbra
República Rosa Luxemburgo
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